Charm

Charm

Em pouco tempo, Claire Cottrill – a Clairo – se tornou uma camaleoa da música pop. Com uma voz suave e letras com um toque singular, a cantora de 25 anos tem uma inquietação específica na abordagem sonora. Ela começou com o bedroom pop dos primeiros singles, depois passou pelo indie rock dos anos 2000 em Immunity (2019) e mergulhou no folk em Sling (2021). O seu terceiro álbum, Charm (2024), se revela como um pop de câmara barroco e soul dos anos 70 – e consolida um catálogo cada vez mais essencial. “Definitivamente é muito importante que eu experimente algo novo em cada álbum e me desafie um pouco mais”, diz ela em entrevista a Matt Wilkinson, do Apple Music. “Tem algo a ver com me reconectar com a minha individualidade ou talvez com a feminilidade que eu perdi e da qual agora me sinto mais próxima.” Pela terceira vez, Cottrill trabalha com um produtor com uma estética marcante. Rostam Batmanglij forneceu os flashes coloridos em Immunity e Jack Antonoff produziuSling. Agora, Charm tem a assinatura de Leon Michels, membro fundador do Sharon Jones & The Dap-Kings. Junto com músicos do selo Daptone e o jazzista Marco Benevento, Michels fornece o suporte perfeito para a música melancólica e tocante de Clairo. “Quando eu conheci Leon Michels, o produtor deste álbum, a minha vida mudou totalmente. E foi algo que aconteceu naturalmente, coisas da vida, não porque eu estava necessariamente procurando alguém”, diz. “Eu era uma grande fã dele, entrei em contato e percebi que a gente morava mais perto do que eu achava. Daí eu passei a ir até lá e começamos a fazer música. Então meio que aconteceu, o que eu acho que foi algo bem saudável. Não foi planejado nem foi algo que parecia forçado. Foi muito legal, tinha um direcionamento bem diferente, algo realmente novo, e acho que valeu a pena colocar a minha energia nisso.” Aqui os instrumentos de sopro vibram nos sintetizadores de “Slow Dance”, enquanto o soul de “Juna” se transforma em pequenos arabescos psicodélicos. Depois, vem “Echo”, com um zumbido eletroacústico que lembra a lendária dupla britânica Broadcast. “[‘Echo’] foi uma das últimas músicas feitas para o álbum”, revela a artista. “Para mim, esta música é uma versão sombria e temperamental de um crush por alguém, ela soa bem assustadora. Não estou acostumada com coisas assustadoras na minha música.” No centro de tudo está a voz intimista de Cottrill, que ressalta e complementa perfeitamente as letras de Charm, que falam de desejo e incertezas. A seguir, oito coisas que Clairo revela sobre Charm.: Clairo queria explorar a “zona cinzenta” de ser seduzida “Eu gostei muito da ideia da zona cinzenta e da empolgação que duas pessoas podem sentir quando estão se seduzindo, porque geralmente isso acontece antes de elas se conhecerem de fato. É como uma paixão – e eu meio que queria que o álbum vivesse na bolha dessa zona cinzenta. Então eu invento o resto da história, seja ela boa ou ruim.” Mas este álbum também trata dos artistas que a seduziram. “Eu sou ligada a artistas pelos quais eu fui seduzida de uma maneira especial, como Harry Nilsson, Margo Guryan, Blossom Dearie, Peggy Lee e até mesmo Suzanne Vega. Há algo muito misterioso neles, eles fazem músicas incríveis e ao mesmo tempo não se levam muito a sério. Suas vozes têm um aspecto sensual, ainda que seja algo bem discreto. É meio atraente, eu quero saber mais sobre essa pessoa. Além disso, eu adoro o álbum Smiley Smile, dos Beach Boys. É muito divertido e revigorante quando bandas com um catálogo extenso e grandes compositores fazem algo bobo e isso vira algo genial.” Este é o álbum que ela precisava fazer depois do “sério” Sling. “Já faz algum tempo que brinco com a ideia desse tipo de álbum, principalmente porque Sling era muito sério e muito focado na vida doméstica e em desacelerar. Eu também percebi que escrever sobre sensualidade – e explorar a minha sensualidade através da música –, mesmo que as músicas não sejam muito sensuais, era importante para mim. Eu nunca tinha escrito dessa maneira, ou talvez nunca tivesse percebido que isso era uma grande parte da minha vida. Eu nunca tinha me conectado a isso até perceber que esse era um elemento que faltava para completar uma pessoa. Todo mundo deveria falar sobre isso. É algo muito divertido e libertador. Eu acho que queria me divertir, aproveitar e escrever um álbum que traduzisse o agora para mim.” E ela precisava de tempo para chegar até aqui. “Já faz quase três anos desde Sling. E foi muito tempo para descobrir isso. Eu até ousaria dizer que poderia levar mais tempo, mas nunca tinha demorado tanto como desta vez. Eu estava exausta e esgotada. Eu não tinha mais nada para dar. Finalmente sinto que estou me reconstruindo novamente com uma música da qual me orgulho muito e com uma perspectiva totalmente nova. E eu sinto que estou cada vez mais próxima de ser a pessoa que quero ser, de fazer os álbuns que quero fazer e de entender como lidar com todo o resto de uma forma que não me enlouqueça.” Neste álbum, ela se deixou ficar mais sombria. “Eu normalmente não me aprofundo em coisas muito sombrias, embora eu ache que as minhas primeiras músicas, quando eu estava no ensino médio e postava umas coisas na internet, talvez tenham algo sombrio. Já faz muito tempo que não faço isso sozinha, mas ouço coisas assim o tempo todo.” Charm a representa agora, mas também foi feito olhando para suas primeiras músicas. “O interessante deste álbum é que eu revisitei muitas músicas minhas do SoundCloud, do meu primeiro álbum e acho que também do Sling. Decidi olhar para tudo o que eu tinha feito para tentar entender qual era a ligação que havia entre as músicas e o que tinha de mim em cada uma delas – e foi difícil achar isso. Mas eu achei isso nas primeiras músicas, talvez nas coisas que eu fazia sozinha, no ensino médio. E isso foi bem interessante porque eu nunca achei que iria revisitar esse material tão a sério. Mas isso é um aspecto importante deste álbum, de fechar esse ciclo para mim, de revisitar o meu começo.” Ela adorou que agora seus pais não entenderam. “Esta foi a primeira vez que minha mãe não gostou imediatamente de algo e eu achei isso lindo, porque finalmente eu fiz algo que ela não gostou. Tem algo de bom nisso. Ela não entendeu e eu pensei: ‘Isso é incrível, porque agora finalmente estou fazendo algo diferente’. Eu estou fazendo uma coisa que tem a ver comigo, porque eu mostrava para os meus amigos e eles diziam: ‘Isso é muito você, cara'. E eu mostrava para os meus pais e eles: ‘Acho que não entendi, Claire’. É assim que tem que ser. Talvez a minha música nunca tenha soado muito rebelde para eles, então isso é incrível.” Gravar o álbum ao vivo fez com que ela se se sentisse mais à vontade. “Este álbum tem a ver com performance, porque as músicas foram gravadas ao vivo. Era bem legal que cada um tinha o controle de uma parte da música, e todo mundo fez o que quis dentro dos limites do que eu estabeleci ou do que havíamos conversado. Foi incrível ver uma banda dar vida às minhas músicas e ver os músicos inventarem algo. E também me deixou muito mais confortável, ou talvez um pouco mais à vontade. ‘Bem, agora eu vou me divertir, vou escrever letras bem rápido e ver o que acontece’, nesse sentido. Em algumas músicas, eu mantive o take do vocal que fiz enquanto eles estavam sentados no sofá ao meu redor, porque era o take mais emotivo. Pode não ter sido o melhor take tecnicamente, mas era o que importava e o que mostrava que você estava presente.”

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